CD




A banda Manzuá esteve no sábado, dia 23 de julho de 2011, no DNA estúdio, gravando imagens para o making of do Memórias do Rio Cachoeira. A seguir, estão algumas fotos deste momento, feitas por Tacila Mendes.












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        Neste momento, a banda Manzuá prepara os 12 poemas musicados que irão compor o CD do Memórias do Rio Cachoeira. 
       Confira aqui a entrevista concedida em um dos ensaios da banda, à assessora de comunicação do projeto, Tacila Mendes. Num clima de bate papo, eles falam sobre o processo de composição, como estão sendo os ensaios, quais serão os poemas musicados e a expectativa para este trabalho.

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Ascom MRC - Como surgiu a ideia do projeto Memórias do Rio Cachoeira (MRC)? 

Brisa Aziz - Vocalista
Brisa Aziz > Há alguns anos, em 2007, quando não existia nem a ideia da banda ainda, musicamos uns poemas de Cyro de Mattos, do livro “Vinte Poemas do Rio” a pedido de Robertinha (Roberta Miranda, diretora de produção do MRC) para o vídeo de conclusão do curso de Comunicação que ela estava fazendo, “Versos e Versões”. Mither, Laísa e eu participamos. Aí em 2009,  com a banda formada, fomos incentivados por Cyro (de Mattos) - que tinha assistido ao vídeo de Robertinha e ficado encantado com aquela junção de poesia, música e vídeo – a considerar a produção de um projeto ampliado, ainda sobre o rio, mas trazendo outros poetas e uma quantidade maior de informações. Quer dizer, ele nos animou a “pretender” (risos). Foi aí que na seqüência ficamos sabendo do edital de apoio a circulação de conteúdo em música que tinha sido aberto pela FUNCEB e que possibilitaria a concretização do projeto. Montamos a equipe de trabalho com a NúProArt e a Panorâmica Produções à frente da concepção toda da estrutura, o projeto foi inscrito e, graças a Deus e ao trabalho de todos, aprovado. Agora a gente ta aqui, trabalhando feliz da vida (risos).

Ascom MRC > Como começou a Manzuá?

Brisa Aziz > Posso até ter a ousadia de dizer que o pedido de Robertinha, lá em 2007, foi o embrião de muita coisa boa que vem dando frutos. Por exemplo: foi a primeira vez que eu e Lai cantamos juntas – e vimos que dá super certo (risos). Outra coisa é ter percebido a possibilidade de musicar poemas como algo concreto na biografia musical da gente. Mas, mesmo depois desse primeiro momento, não formatamos de imediato uma proposta musical juntos. A Manzuá quis começar em 2008, quando Mither (violão e voz), eu (Brisa Aziz, voz), Dario Rasta (percussão), Marcelo Sena (baixo), Johnnie Walker (guitarra) e Tremedal (vocais, violão e gaita) começamos a tentar tirar um som. Fizemos até duas apresentações juntos, mas o projeto não se sustentava por falta de tempo mesmo. Todos trabalhávamos e os meninos estavam bastante ocupados com as propostas das outras bandas em que eles tocavam. Aí no começo de 2009 veio o pedido de Victor (Aziz) e Cris  (Santana, ambos da NúProArt) pra gente formar um repertório e tocar no casamento deles. Na hora lembramos do som que eu e Mither tínhamos feito com Laísa e como nos soava bem aquela junção. Convidamos Lai e Weber. Aí fizemos um quarteto – com nós duas nos vocais, Mither na percussão e Weber na viola. Mas aí tava ficando tão gostoso fazer aquele som que sentimos a necessidade de fazer com que ele crescesse – aí veio Solari (guitarra) com sua fábrica de sons, Weber assumiu o baixo e a viola, Mither descolou uma bateria e é assim que gente vem fazendo som juntos desde junho de 2009. É bom frisar que o nome Manzuá a gente encontrou num vídeo que Cris e Victor fizeram – Armadilha – que documenta o dia-dia dos pescadores aqui no Rio e que tipos de armadilhas eles utilizam pra capturar os pescados. Tem um senhor no vídeo, que conversa com a câmera enquanto prepara um manzuá e nos pareceu um trabalho tão esmerado, que ao mesmo tempo passava tanta paz e sossego que foi difícil esquecer a cena. Fora a sonoridade do nome - MANZUÁ – apaixonamos (risos) e aí ficou o nome da banda.


Ascom MRC - Como a Manzuá está encarando o desafio de musicar os poemas dos autores itabunenses?

Laísa Eça - Vocalista
 Laísa Eça > Na minha visão, é um desafio, mas os meninos (Brisa, Mither, Marcelo e João), já estão acostumados com o processo de composição. A questão mais nova é o fato da gente formatar uma apresentação só com poemas musicados.




Mither Amorim - Voz, percussão e bateria
Mither Amorim > Eu gosto muito do contato com a pesquisa, que é quando a gente acaba tendo contato com os poetas da região, pois eu nunca tinha tido esse estímulo antes, e isso está mais presente agora. Hoje em dia, quando passo pelo rio já tenho outra visão. Penso nessa questão da poluição do rio, ou quando Valdelice Pinheiro cita as pessoas que foram mortas nas enchentes, por exemplo. Aí vou lembrando da visão de cada poeta sobre o rio. 

Ascom MRC - O poema é musicado na integra?

Brisa Aziz > Sim, a gente “melodiza” os poemas. Acho que só teve um poema que a gente deixou de utilizar a última estrofe, mas aí conversamos com a poetisa e ela concordou da canção ficar sem aquele “apêndice”, mas em geral não fazemos alterações. Musicamos todo ele da forma como nos foi enviado pelo autor. 

Ascom MRC - Como está sendo a escolha dos 12 poemas? Houve algum critério para escolhê-los?

Brisa Aziz > Nós pesquisamos tudo que tivesse relação com o Rio Cachoeira de autores de Itabuna e a partir daí o critério foi: “o que dá samba”. Porque precisávamos de poemas que virassem uma boa trilha sonora. Tinham poemas muito bons enquanto poemas e ponto, mas precisávamos de poemas que virassem também boas músicas. 

Marcelo Weber > Em geral, a gente conseguiu musicar os poemas, apenas tivemos que substituir alguns que havíamos escolhido antes. Algumas pessoas perguntam por que nós não escrevemos os poemas, já que também compomos, mas no processo de construção do Memórias, a gente quis que os poetas falassem para que nós ouvíssemos e cantássemos a cidade.  

Laísa Eça > Tem também a questão do CD, então nós pensamos nas pessoas que vão ouvir as músicas em casa, e não só na trilha para o documentário, tudo isso influenciou para que escolhêssemos esses 12 poemas. 

Brisa Aziz.> O processo de escolha é doloroso (risos), se pudesse, a gente tinha registrado bem mais do que os 12, mas como tinha que ser essa quantidade, nós sofremos um pouco, mas acho que escolhemos bem.  

Ascom MRC - Sabe-se que músicos e bandas precisam de tempo para compor. Como vocês estão fazendo para criar os arranjos das 12 faixas dentro do cronograma do projeto?

Marcelo Weber - Baixo e violão
Marcelo Weber > No banheiro, andando na rua (risos), estudando, sentado no computador, ouvindo música; a todo momento a gente fica pensando no que ficaria legal. Muitas vezes acontece da gente criar no momento do ensaio, com coisas que a gente experimenta e acaba entrando. A gente sempre anda esperto para registrar o que pode ser colocado para ficar melhor. Neste momento, o processo de construção está adiantado, mas não está totalmente fechado. 


Brisa Aziz > Volta e meia os meninos dão idéias para esmerilar, “polir” o som. As músicas estão prontas, só falta aquele “lustre”.  

Ascom MRC – Então, qual a principal meta de cada ensaio?

Brisa Aziz > A gente já vinha há algum tempo se encontrando lá em casa, para fazer a melodia dos poemas que estão sendo musicados, com violão e cajón. Mas agora estamos aqui, no NúProArt, plugados, gravando os ensaios para nos escutarmos e polirmos o som, as músicas. Está tudo encaminhado, agora que falta 1 mês para entramos em estúdio para gravarmos o CD. 

Ascom MRC - Como está sendo a interação entre os cinco música da banda, na hora de compor as músicas para o MRC?

Laísa Eça > Cada um tem um processo diferente, mas em geral a gente ouve a base, e aí, muitas vezes, Joãozinho (João Solari) ouve em casa e traz um arranjo já pronto nos ensaios.

Mither Amorim > Esse lance de escolher a música é algo que tem a ver também com a poesia. A gente sente o que a música pede, se tem a ver com o poema...   

Brisa Aziz > A gente tem já dois anos juntos, então apesar de cada integrante, particularmente, ter um gosto diferenciado, sabemos qual é a sonoridade da Manzuá e nos ensaios o processo de decisão do que fica ou não em cada música acaba sendo facilitado por essa convivência da gente. A gente meio que imagina como é que deve soar determinada canção pra ser “nossa”.


Ascom MRC - A banda Manzuá traz em sua sonoridade, autodenominada como “sonzeira”, diversos estilos como Ijexá, maracatu, blues, reggae, queto, funk, samba-rock, rock  e também a utilização da linguagem poética. Há outros gêneros ou elementos sonoros que serão trabalhados para o MRC em especial?

Mither Amorim > A gente trabalha em cima de cada poema. Tem um que estamos
musicando, por exemplo, que “pede” um tipo de som que não tem uma referência, porque ele não está dentro de uma estrutura de gênero específico. E muitas vezes, dentro dos exemplos de ritmos citados, não dá pra dizer que trabalhamos com estruturas tradicionais desses estilos, porque não é uma coisa fechada, a gente faz pra ficar bom, seja tradicional ou não.

Marcelo Weber >  A trilha é uma construção de rodízio, então quanto mais a gente conseguir diversificar a musicalidade, melhor.  
Mither Amorim - A questão da matriz afro dos gêneros que temos como referência é forte, mas não é “o” elemento determinante. A gente trabalha “o som e o sentido”.

Brisa Aziz > É. Não somos puristas.

Ascom MRC - O que o público pode esperar deste trabalho quando ficar pronto?

Laísa Eça > Eu acho que esse é um trabalho muito especial, nós estamos nos dedicando bastante, estamos trabalhando cada detalhe, com carinho mesmo, pensando não só no que gostaríamos de tocar, mas também no público. 

Ascom MRC - Sim, pois este é o primeiro CD da banda, não é?

Laísa Eça > É! (Risos) É por isso também que a gente está tendo esse carinho todo para fazer esse trabalho...   

Brisa Aziz > Meu desejo é de que as pessoas gostem e se identifiquem. Mesmo as pessoas que não são daqui de Itabuna. Acho que isso é possível porque a maioria das cidades tem uma relação com seus rios, já que a escolha de um determinado local para iniciar um povoamento passa pela questão da maior ou menor facilidade do abastecimento de água. Então posso resumir dizendo que cada cidade tem seu rio (ou rios) de afeto. Assim, as pessoas podem se identificar com o documentário, com os poetas e com as músicas que foram geradas a partir desses poemas. Quem é de Ipiaú poetiza e canta o Rio de Contas, quem é de Juazeiro, o Rio São Francisco, em São Paulo, o Rio Tietê, em Foz do Iguaçu pode-se cantar o Rio Paraná e o Rio Iguaçu. Mesmo em Paris, cortada pelo rio Sena, ou em Londres com o Tamisa, a gente vai encontrar testemunhos artísticos da relação das pessoas com os seus rios. O Rio Ganges, na Índia, então, faz parte até de ritos religiosos importantes, o Nilo...
É muito difícil um artista passar batido pelo local em que ele vive.  A gente é baiano, nordestino, tem a questão regional, mas também nos identificamos com o macro, né?

Mither Amorim > A gente está produzindo memória falando da história do Rio Cachoeira, falando da literatura, da poesia da região, e também está produzindo memória sonora. Eu acredito que será muito gratificante falar que esse material está contribuindo para registrar isso tudo. 

Laísa Eça > É a história das pessoas que moram aqui, elas estarão participando, contando suas memórias... 

Brisa Aziz > A gente gostaria que as pessoas da cidade se vissem e que as pessoas de fora vissem o relato da gente como o nosso jeito de contar uma história que é também deles. É como dissemos nesse instante, quem não tem seu rio? Quem não tem?!   

João Solari - Guitarra e violão


João Solari > "É isso mesmo!"
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